Estive na histórica cidade de Caicó, localizada na região do Seridó Potiguar, para pesquisas e estudos históricos/genealógicos. A cidade é, sem dúvida, a guardiã da memória histórica mais bem preservada do nosso Estado. Tradição e história se misturam para fecundar a cada dia a memória indelével de um povo bravo e lutador.
No centro administrativo da cidade, deparei-me com uma situação um tanto inusitada. A sede da prefeitura municipal estava, no sábado, transformada em QG da História e da Genealogia, por obra do Prefeito de Caicó, Bibi Costa. O prefeito, genealogista reconhecido em sua terra e meu confrade de Instituto de Genealogia, que atende e despacha durante a semana os assuntos governamentais, deixa o sábado para a pesquisa.
Fui encontrá-lo em seu gabinete. Ele estava absorto na leitura, cercado pelos livros, pelos jornais e pelas anotações das mais variadas áreas sob o olhar maternal da pintura de Sant’Ana. Entreguei-lhe fotos antigas do Município do Caicó e que pertenceram ao acervo de meu tio historiador Augusto Tavares de Lyra.
O genealogista Bibi Costa está terminando sua pesquisa sobre a família Fernandes Pimenta, na qual descobriu a ligação genealógica entre o historiador Luiz da Câmara Cascudo com o português Antônio Fernandes Pimenta, estabelecido em Caraúbas e patriarca da família e que, até então, fora segredo de Hermes Trimegisto para os genealogistas potiguares.
Bibi Costa possui uma pesquisa inédita sobre as práticas culturais dos ciganos do grupo Calon reconstruindo sua historicidade numa perspectiva sócio-cultural. Na pesquisa, Bibi aponta grupos, distingue dialetos, traduz palavras e expressões desse grupo de ciganos que vivem na cidade de Florânia/RN.
Sabe-se que os ciganos do grupo Calon não possuem história escrita nem tampouco memórias esboçadas em grafias. Eles guardam e preservam na memória os seus segredos, suas histórias e sua identidade. Segundo Bibi Costa, a identidade dos Calon é de resistência, construída por atores que se encontram em condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação. Isso leva à formação de comunas ou comunidades e dá origem a formas de resistência coletiva diante de uma opressão social. Os ciganos do grupo Calon constroem coletivamente essa identidade de resistência e formatam a possibilidade de criação de um novo movimento social.
Também me despertou a atenção a genealogia que ele está desenvolvendo sobre a família do Dr. Amaro Cavalcanti, irmão do padre João Maria. Tratar-se da reconstituição familiar de dois personagens seridoenses importantes da história do RN. Não existe pesquisa nesse sentido no RN, assim a divulgação desse estudo tem sido bastante esperada.
Bibi Costa não para quando se trata de assuntos voltados para história e cultura do seu Município e seu Estado. Ele falou-me de seu mais recente projeto: está digitalizando todos os documentos históricos contidos nos arquivos da municipalidade, assim como os oriundos da Biblioteca Pública Olegário Vale, de onde emergem valiosos documentos, como uma coleção do jornal A República e do Diário Oficial do Estado e livros raros, que depois de serem restaurados ficarão a disposição da população na referida biblioteca.
Ainda dentro dessa perspectiva da preservação da memória, Bibi e sua equipe pretendem instituir um Centro de Pesquisa Histórica do Seridó que contará com o acervo pessoal do genealogista e historiador Olavo de Medeiros Filho, numa justa homenagem ao seridoense que divulgava sua gleba com pesquisa séria e reconhecida.
Fiquei feliz em observar a preocupação do Prefeito Bibi Costa com a preservação da memória da sua terra e da sua gente. E com o quanto nos ensina a cidade de Caicó com seu exemplo edificante de reconhecimento da história, da genealogia e das tradições locais como guias da identidade cultural de um povo que é singular sob vários aspectos em nosso Estado. Macaíba/RN Abraços: Anderson Tavares-Graduado em História. Atualmente é mestrando em Educação pela UFRN e cursa Direito. É sócio fundador do Instituto Norte-Rio-grandense de Genealogia, membro do Instituto Pró-Memória de Macaíba, do Centro Norte-Rio-grandense do Rio de Janeiro e da Academia Macaibense de Letras, onde ocupa a cadeira nº 04, cujo patrono é Augusto Tavares de Lyra.
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